terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Processo social baseado no consumo e na mudança das identidades

Fabio Rosso
Aula do dia 03.09

A ideia inicial da aula de Estudos Contemporâneos da Comunicação e Cultura foi refletir sobre a situação do jornalismo impresso, em função das novas tecnologias que englobam a comunicação, entre elas, a plataforma que é a internet. Para isto foi citado o exemplo do Jornal do Brasil, que não possui mais veiculação de jornal impresso. Aos publicitários a reflexão foi a respeito do evento Mídia Show, que também abordou as novas tecnologias e a utilização de rede sociais como forma de conquistar o público desejado.

Logo após, partimos para ideia do multivíduo. Esta palavra está relacionada com a identidade da maioria das pessoas de hoje em dia, ou talvez, a totalidade das pessoas. Os seres humanos perderam aquela identidade única, e assumiram inúmeras novas posturas, de acordo com os grupos sociais e locais em que estão participando.

O multivíduo, é o sujeito que habita a metrópole comunicacional, é a pessoa com vários “eus”, que possui o comportamento mutante a todo instante que vivencia novas situações, não mais apenas na terra, mas também do ciberespaço. 

Antes da Revolução Industrial, até a chegada da comunicação de massa, a identidade era única durante praticamente toda a vida. Era formada a partir da hereditariedade (filho de fulano, sobrinho de ciclano…), e da profissão (o médico da cidade, a professora do bairro…). No passado, as pessoas pouco se mudavam de cidade, o que justifica essa situação.

Os autores Mássimo Canevacci e Baumann, acreditavam que a “identidade do passado”, ou seja, aquele conceito de identidade, era uma prisão. As pessoas eram manipuladas, moldadas, sem rupturas de identidades ou comportamentos sociais. As pessoas eram sempre as mesmas, a maior mudança acontecia no casamento.

O teórico Baumann também acredita que a comunicação de massa inaugurou novas identidades. A identidade antiga, passa a entrar em colapso e ser revista pela sociedade. As pessoas passaram a viver em novas comunidades, e essas, quando percebidas em outros “espaços”, podem ser consideradas incluídas no conceito de desterritorialização. No ciberespaço você não é mais visto como o filho de fulano porque as pessoas não conhecem o fulano. Você assume uma postura de acordo com cada grupo em que passa a fazer parte. O que não significa que você é “falso”, mas que se adapta aos grupos e suas características. E neste espaço, aspectos da vida que não eram anteriormente reconhecidos, agora passam a ser.

Os meios de comunicação, portanto, ampliaram as visões de mundo. E todos buscam fazer parte de alguma coisa. O conceito chamado “pertencimento”, onde todos buscam por aceitação. E o consumo, torna-se a forma mais fácil de pertencer a determinadas comunidades. Ou seja, quando você consome as mesmas coisas, seja ir aos mesmos lugares, vestir as mesmas roupas, ou possuir determinados objetos, você passa a ser aceito.

A hibridização cultural também é outro fenômeno interessante. As culturas do passado entram em conflito e perdem aos poucos sua essência, fazendo com que as culturas sejam amplas e mistas, difíceis de serem definidas.

Mas nem tudo é totalmente positivo. Para o autor Baudrillard, o aspecto negativo das “novas identidades” é a superficialidade. Já Baumann também vê que há neste contexto, uma crise de identidade, o que faz surgir um processo de “esvaziamento do sujeiro”.

Assim como foi citado de exemplo na aula, alguns índios geralmente vão para as cidades, não se adaptam, retornam para as comunidades de origem, mas em alguns casos, não são aceitos novamente. Passam então, a estar “perdidos”, “nômades de interesses”, sempre buscando algo que não sabem exatamente o que é. A religião também é outro exemplo notável. Ninguém mais é totalmente de determinada religião. As culturas religiosas se misturaram de tal forma que as pessoas também fizeram um misto de crenças.

O consumo torna-se então a base das transformações. O que chamamos de coisificação do mundo. A valorização do objeto, das coisas materiais ou que delas derivam, passa a ser mais importante para a humanidade inquieta e insatisfeita. “Ter para ser”.

As “coisas” são tão mais importantes, que os homens passam por cima dos outros, para tê-las, para obter o lucro. “O poder é o que move a vida humana. O homem consome por prazer. Poder é a busca pelo prazer”. Notamos tal situação a todo instante nos jornais. Há políticos que roubam, ladrões que tiram vidas para terem determinados objetos, entre outros inúmeros exemplos.

E tudo isto é o sistema de consumo. Esta mudança social em que o homem e a coisa entram em simbiose está cada vez mais presente. Os óculos agora são a visão do homem. O marcapasso assume a função do coração. A torneira liga e desliga ao passar a mão por baixo dela. A luz acende quando batemos palma. O manequim da loja, faz o serviço do humano. A tecnologia vem transformar a vida e o pensamento humano.

Todas estas considerações nos dão uma certeza: caminhamos para o pós-humano, onde o homem e os objetos serão praticamente indivisíveis. Não se estabelecerá mais o que é ou não é humano. Não haverá limites.

No vídeo Story of Stuff percebemos a crise em que a sociedade se encontra, que não permite vivermos em um sistema linear. Ou seja, é preciso observar e repensar em inúmeras outras questões que estão relacionadas ao sistema de produção e consumo, baseados nas etapas de extração, produção, consumo e descarte.

É necessário observar uma série de fatores, não apenas consumir e aceitar certas imposições estabelecidas pelo governo, corporações e pela própria globalização. É preciso pensar na felicidade das próprias pessoas e suas diversidades. Proteger o meio ambiente e desvalorizar o consumo. Estamos usando “as coisas” demais, sem observar as consequências que elas podem gerar. Os reflexos desta realidade estão refletindo nos desequilíbrios sociais e ambientais.

Mas as pessoas querem fazer parte do sistema, e neste sistema, se você não compra, não consome, você não faz parte dele. Faltam opções. Nós como jornalistas e publicitários devemos prestar atenção nisso. Pois as propagandas e a mídia em geral fazem com que as pessoas se sintam fora dos padrões sociais e necessitem consumir desesperadamente, como máquinas, como robôs, que não pensam, apenas agem a partir da tecnologia. Mas até quando será possível viver em um lugar assim, onde a saúde, a felicidade e o meio ambiente ficam em último plano? O provérbio diz tudo: “Quando for cortada a última árvore, poluído o último rio, e morrido o último peixe, as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro”.